O que os Adolescentes esperam da Escola

Se você tem um adolescente em casa ou trabalha na área da educação, já deve ter se perguntado: o que a escola realmente significa para essa geração?

a man sitting on a brick sidewalk reading a book
a man sitting on a brick sidewalk reading a book

Se você tem um adolescente em casa ou trabalha na área da educação, já deve ter se perguntado: o que a escola realmente significa para essa geração? A rotina de aulas tradicionais ainda cativa? A resposta, segundo um estudo inédito que ouviu mais de 2,3 milhões de estudantes brasileiros, é clara: o que os adolescentes esperam da escola vai muito além de provas e conteúdos teóricos. Eles querem um ambiente que prepare para a vida real, valorize suas vozes e ofereça experiências dinâmicas.

O Ministério da Educação (MEC), em parceria com o Consed e a Undime, conduziu a "Semana da Escuta das Adolescências nas Escolas" para entender as percepções de estudantes dos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano). Os resultados desse relatório nacional são um mapa de como a escola pode se transformar para se conectar de forma significativa com essa fase de transição e desenvolvimento.

As 4 Grandes Demandas dos Jovens: Conexão e Prática

A pesquisa mostra quatro áreas principais que os adolescentes veem como cruciais para o seu desenvolvimento e engajamento.

1. Conteúdo para a Vida Real e Futuro

Os estudantes valorizam as disciplinas tradicionais, como Português e Matemática, mas a escola ideal precisa ir além. Eles buscam conhecimentos que impactam diretamente suas vidas e futuro.

  • Corpo e Mente: Quatro em cada dez adolescentes dão importância a conteúdos de esportes e bem-estar. Além disso, notou-se um aumento no interesse por autoconhecimento, autocuidado e saúde mental entre os alunos mais velhos (8º e 9º anos).

  • Habilidades e Finanças: Tópicos como conhecimentos ligados à tecnologia (25% dos respondentes) e, principalmente para os mais velhos, educação financeira (30% dos 8º e 9º anos) são vistos como essenciais para o futuro.

  • Formação Cidadã: Curiosamente, temas como cidadania, política, sustentabilidade e meio ambiente foram apontados como os menos importantes. Isso levanta a questão: a escola está ensinando esses temas de forma envolvente e relevante para o jovem?.

2. Aprender Fazendo: Aulas Dinâmicas e Interação Externa

O formato tradicional de "aulas teóricas com conteúdo no quadro" não é a preferência. Os adolescentes querem metodologias de ensino mais ativas e com conexão com o mundo.

  • Experiência Fora da Sala: Quase metade dos estudantes de 8º e 9º anos (45%) preferem aprender fazendo visitas, passeios e trabalhos fora da escola. Essa é a forma de aprendizado mais requisitada.

  • Mão na Massa e Esporte: As aulas práticas, com projetos e "mão na massa", são consideradas indispensáveis para a escola do futuro por 40% dos estudantes. As práticas esportivas aparecem com a mesma relevância.

  • Reforço e Leitura: Alunos de escolas com desempenho acadêmico mais baixo (Ideb) tendem a valorizar mais as formas de aprendizado tradicionais, como leitura e reforço escolar.

3. Convivência e Vínculos Fortes

A escola é um importante espaço de socialização, e os jovens valorizam os laços que criam. O grande desafio, no entanto, está na relação com os adultos e na segurança do ambiente.

  • Amizade é Prioridade: Oito em cada dez adolescentes afirmam ter amigos com quem gostam de estar na escola.

  • Relação com Adultos em Crise: Apenas metade dos estudantes de 8º e 9º anos relata sentir-se acolhido por pessoas adultas. Além disso, a afirmação com menor concordância em todas as faixas etárias é a de que estudantes respeitam e valorizam professores.

  • Mais Diálogo e Competições: Para melhorar a convivência, a iniciativa mais popular são os jogos, competições e olimpíadas (quase 50%). Eles também demandam mais atividades que falem de bullying, racismo e prevenção de violências.

4. Mais Voz e Participação Ativa

Os adolescentes querem ser ouvidos e participar ativamente das decisões. Eles veem a participação conectada a eventos e representatividade.

  • Intercâmbio e Competição: A maior preferência para melhorar o engajamento são os campeonatos ou práticas esportivas entre escolas. Essa atividade extrapola os muros e combina esporte com competição.

  • Cultura e Talentos: Em segundo lugar, estão as atividades coletivas onde estudantes e docentes mostram habilidades artísticas e culturais (35%). Essa é uma forma de participação mais valorizada que grêmios estudantis.

  • Voz Ativa: Estudantes mais novos (6º e 7º anos) demonstram maior interesse em participar de reuniões com professores e funcionários para decidir questões importantes da escola (31%). Esse interesse, porém, diminui nos anos finais.

A Escola do Futuro é Conectada com a Adolescência

O relatório da Semana da Escuta das Adolescências nas Escolas é um convite à reflexão: a escola precisa se modernizar e se reconectar com seu público. Os jovens esperam uma educação que não apenas passe conhecimento, mas que os impulsione para o futuro, com mais prática, diálogo aberto e espaço para as suas paixões, como o esporte.

As escolas que priorizarem metodologias ativas, saídas de campo, debates sobre temas sensíveis (como bullying e saúde mental) e oportunidades de participação cultural e esportiva estarão no caminho certo para construir o que os adolescentes realmente esperam: a escola que os desenvolve de forma integral.

Sua escola já pratica a escuta ativa dos estudantes? O diálogo contínuo é o primeiro passo para garantir que a educação seja relevante para a vida dos jovens.

Saiba mais sobre o assunto, leia os livros: